Elementos para abordagem do tema
“ Histórico da informatização em Angola”
A Sistec sente-se honrada em dizer que contribuiu de forma muito significativa para o aparecimento da micro-informática em Angola.
Tivesse sido obtido do Governo da altura o suporte adequado, hoje Angola poderia estar em posições muito interessantes a nível Internacional no sector, nomeadamente, em software.
Até 1972, Angola passou pelo seguinte parque informático:
- Menos de 5, Computadores de processamento batch IBM modelo 1401
- Um computador da série 3, na Universidade de Angola (primeiro computador em África com um “ecran” ...)
- Umas dezenas de máquinas de contabilidade NCR32, NCR400
- Algumas Máquinas de contabilidade Borroughs e Ollivetti
- Alguns (bastantes...) cérebros de programação e análise que mereceram prémios internacionais.
Entre 1972 e 1981, Angola pouco evoluiu, tendo-se na altura concentrado nos main frame e máquinas básicas de processamento batch. É assim que entre 1972 e 1981, as evoluções registadas foram:
- Os computadores IBM passaram da série 1401 para a série 360.
- O computador da Universidade foi descontinuado
- Dois bancos e uma empresa petrolífera compraram três computadores main frame NCR mod. Century 100.
- A Universidade adquiriu dois mini-computadores Data General.
- Uma parte das máquinas NCR 32 evoluiram para o mod. NCR 299 ( Angola importou ainda umas 10 unidades NCR399 que nunca chegaram a ser instaladas ).
- Foram importadas uma meia centena de máquinas Ollivetti BCS30.
Entre 1981 e 1982 a IBM conseguiu que Angola:
- Permitisse condições salariais excepcionais para o seu pessoal
- Comprasse 5 computadores main frame do tipo 370/138.
Angola, na altura muito dependente da IBM, não terá tido o descernimento para analisar correctamente o mercado mundial pois a IBM terá vendido por cerca de 1,5 milhões de USD cada, os últimos 5 computadores da série 370 que a IBM produziu.
Esta decisão pode considerar-se um erro porque o mundo na altura estava já a largar tudo que o fôsse processamento BATCH, bem como tudo que fôsse cartões perfurados etc. ; A tendência na altura JÁ era “on line real time”.
Entretanto estes 5 computadores ficaram ainda uns anos sem serem instalados porque:
- Precisavam de um “site” que custava mais de 2 milhões de USD cada, com todas as consequências orçamentais daí resultantes (e isto acontece na altura em que o orçamento Angolano dependia essencialmente das receitas do petróleo e numa altura o preço do petróleo chegou a estar a 9USD por barril, .....)
- Como já estavam desactualizados, não havia utentes para usar os computadores, tendo sido instalados apenas as máquinas da TAAG e do Instituto Nacional de Estatistica.
- Posteriormente foram instaladas uma segunda máquina da TAAG (companhia aérea Nacional...), uma no BNA e a quinta no Ministério das Finanças.
A TAAG, necessitada de processamento “on line real time”, continuou a investir erradamente nestas máquinas e adquiriu um sistema á empresa Raytheon que utilizada a saída da impressôra do computador para ligar terminais “on line” e fazer o interface ás redes mundiais das companhias aéreas ( através da rede SITA ); Para tal a Raytheon “aldrabava no Sistema Operativo o port da impressora transformando-o numa porta de entrada e saída... O Engº Sansão da TAAG e o Morais da IBM ( á revelia desta claro…) , foram dois dos angolanos que trabalharam neste “reescrever do Sistema Operativo da IBM” facto que retirava as garantias às máquinas.
O processamento Angolano continuou pois a ser feito em sistema batch e em cartões perfurados
Mas, mesmo com a evolução para os terminais IBM 3741 com base em disketes de 8 polegadas
nada mudou no processamento.
Esta situação dominou “de facto” a informática de Angola bem até 1985 embora por essa altura experiências de PC´s e redes pontuais tivessem sido feitas por alguns organismos e empresas.
Em 1981, surgiu a empresa Protécnica (precurssôra da Sistec...), primeira empresa nova criada após a independência.
Essa empresa, querendo informatizar-se, procurou soluções no mercado e todas as que encontrou, a saber, NCR, IBM, OLIVETTI e ROBOTRON, não serviam para o que pretendia devido a:
- Preço
- Tecnologia
- Inexistência de software interactivo
A única máquina aceitável teria sido o sistema mini NCR 9000 que funcionava em Unix mas para o qual não existia nenhum software de gestão. De qualquer forma, o custo dessa máquina, sem qualquer garantia de software, era superior a USD 60.000, incomportável para a Protécnica;
Como nota, a empresa Centroci, processadora central da contabilidade das empresas do Ministério da Industria, comprou por volta de 1985, uma máquina destas e o software foi feito na altura e custou quase um milhão de USD...
A Protécnica, sabendo da existência dos “micro-computadores” que haviam surgido nos EUA com as marcas APPLE, TANDY e COMMODORE,
decidiu procurar e adquirir por sua conta e risco estas máquinas para resolver o seu problema de organização interna sabendo que os custos rondariam um máximo de USD 5000 por máquina.
A Protécnica teve no entanto problemas sérios em comprar este tipo de micro-computadores porque Angola estava numa lista dita “cinzenta” em termos de exportação de tecnologias e processadores. Na altura, havia restrições sérias por parte dos EUA para exportar “chips” e os Países considerados menos credíveis por eles tinham que passar por um crivo e uma “licença de exportação” para conseguir comprar coisas que tivessem os ditos “chips”. Existem histórias sobre coisas ridículas como por exemplo não se poderem comprar “bonecas que falavam ( tinham um chip embebido …) “ porque era considerado “com possibilidade de uso militar”.
A situação chegou ao ridículo de se poder ir á Europa ou aos EUA, comprar máquinas nas lojas, meter dentro da mala como bagagem e trazer as máquinas para Angola e não se poder oficialmente receber máquinas via normal. A Protécnica teve sérios problemas junto dos seus clientes estrangeiros (empresas e ONG´s...) devido a este fenómeno porque eles não entendiam estas limitações no mercado.
É assim que a Protécnica busca e consegue na Europa ( NEW BRAIN...) e no Japão ( CASIO...) os meios que necessita não antes de passar por “trial & error” próprio de quem desconhece quase por completo o que está a comprar.
Com o aparecimento da Protécnica as coisas a nível informático nunca mais foram as mesmas no País mesmo com as limitações que nos eram impostas pelo sistema semi-comunista em que Angola vivia.
Viveram-se situações bastante caricatas como por exemplo o facto das máquinas terem que ser importadas como “calculadoras científicas programáveis”, porque o próprio Governo Angolano (através da sua central de compras Maquimport, UEE...) só aceitar como fornecedores de computadores para Angola as marcas IBM, NCR, OLLIVETTI e ROBOTRON somado ao facto das licenças de licenças de exportação demorarem as aquisições entre 60 e 90 dias....
Eis um cronograma do que se comprou e usou entre 1980 e 1983...
- A primeira “coisa” parecida com um PC foi um computador comprado pelo Sonangol à IBM e que funcionava com uma linguagem chamada de PL1...
- Mais ou menos ao mesmo tempo apareceu uma “coisinha” parecida com um brinquedo que foi um “home computer” comprado em kit pelo Eng Pinho ( que então trabalhava na Sonangol...), um Sinclair ZX80. Ligava-se a um televisôr através da porta de UHF, tinha 1KB de RAM, tinha um teclado de membrana horrível, era azul e branco e os programas de dados gravavam-se num gravador de cassetes normal.
- Depois vieram dois ZX81, muito parecidos com o anterior mas que já tinham 8 KB de RAM e uma “caixinha” que aumentava a memória para 16 KB. Continua com o mesmo teclado de membrana mas começavam a haver pessoas a viver dessa máquina fazendo software e hardware adicional para ela, e, assim, uma das máquinas que veio já trazia um teclado externo que se parecia já com um teclado mais normal e uma mini impressôra térmica que usava um papel especial.
- A terceira experiência foi uma máquina mais a sério, o CASIO FX9000P que já tinha uma drive dupla de disquete, a memória era em “cartridge plug in” não voláteis, a impressôra era matricial-unidireccional (a primeirinha impressôra EPSON MX80 que foi produzida e que iniciou o sucesso da Epson...). Tinha já um ecranzinho de 9 polegadas verde. Na altura o Eng.Pinho fez um programa simples para testar a máquina que era um “relógio” a funcionar no ecran verde que impressionou toda a gente....
- A quarta máquina foi o NEW BRAIN... Vieram duas no inicio e esta máquina tinha tudo para ser uma ganhadora do mercado... Ainda está inexplicado porque ao fim de uns anos a empresa Grundy Systems ( fabricante do Newbrain...) faliu, pois o NB era superior a tudo o que havia na altura... Podia ser ligada á porta UHF de um TV, podia ser ligada a um monitor monocromático, ligava-se a impressôras matriciais, tinha um BASIC super poderoso, um controlo de ecran igualmente fantástico, os comandos do BASIC residente em ROM eram digitados letra a letra ( ao contrário das teclas shift da Sinclair...), controlava 2 gravadores de cassete, tinha um teclado pequeno mas super robusto e tinha um interface a uma drive dupla de disquetes que até hoje nunca foi duplicada e que permitia “ler” e “gravar” qualquer formato de disquete que se pretendesse. Apresentava já as promessas de um interface a um disco duro e de uma rede que apenas apareceram já nos fins da vida da empresa. Mais que tudo, a NEW BRAIN permitia trabalhar “o sistema operativo” CP/M e, como lia e escrevia qualquer formato de diskete, podia importar e exportar dados “de” e “para” qualquer outra máquina.. Esta máquina “importou e exportou” dados para os compatíveis IBM, para os Robotron que Angola importou mais tarde, para dois Sord, e para os CASIO até ao fim da sua vida útil.
- Foi com base num ZX81, num FX9000P, em dois NEW BRAIN que o Eng. Pinho deu o primeiro curso de programação em BASIC do País e o Beto Marques criou a primeira equipa de programação angolana para software “realmente útil que foi colocado em uso no Ministério do Comércio Interno”.
Neste processo de micro-informatização, a Protécnica trabalhou de perto com o Min. Do Comércio... que, fruto da “carolice” de alguns funcionários, viu e abraçou esta tecnologia tão simples e tão em conta, e que mesmo contra os pareceres técnicos de quem coordenava o sector informático do País na altura, adoptou a tecnologia e colocou-a em uso.
A história de como o Ministério do Comércio entrou neste processo é simples...
Um director da Protécnica dirigiu-se ao Ministério do Comércio para tratar de um assunto e encontrou o Dr. Beto Marques a fazer uma coisa que na altura se chamava “fazer o plano” ( quem viveu estes tempos sabe o “saco” que isto era...).... BM estava literalmente “mergulhado” em metros rolos de papel de máquina de calcular desenrolado ( ele usava o papel numa face e depois virava o papel e imprimia do outro lado para poupar papel, coisa que nesses tempos era critico e essencial...); O Director da Protécnica achou estranho tanta conta e tanto papel e perguntou o que ele estava a fazer...
Ao explicar o que estava a fazer (um conjunto rotineiro e sequencial de contas de somar, multiplicar e dividir que caracterizada a elaboração do plano Nacional e a sua distribuição por província e habitante....) ele referiu que tinha um máquina que podia resolver o assunto com muita simplicidade pois a operação que ele estava a executar podia ser feita com um simples “loop” em BASIC onde se podiam introduzir as variáveis e apenas tinha que se “ler” os resultados no TV e “transcrever” nas folhas do plano sem gastar papel ( como atrás referi, os consumíveis eram na altura um problema sério em Angola...).
Ao fim de 15 capítulos BM estava a fazer o “loop” e muito mais e claro não parou por aí e passou “querer mais e mais e mais” cumprido a celebre regra informática…”as necessidades nas TI são fêmea…” e reproduzem-se como muita facilidade...
Foi então organizado um curso de micro-informática e BASIC ministrado pelo Eng. Pinho; Depois do curso de BASIC onde estiveram presentes vários curiosos e pessoal do Ministério do Comércio...
- Foram desenvolvidas as primeiras aplicações para gestão do plano do Min. do Comércio onde até os indices de “Kcal por habitante se calculavam...” e onde se calculavam as consequências em saúde para a população SE tais calorias não fossem abastecidas.
- Foram feitos programas de contabilidade, stocks, facturação, salários etc...
- Foram desenvolvidas técnicas próprias de “indexação” de dados em basic interpretado para acelerar a velocidade de acesso aos dados.
- Foi mesmo desenvolvido o “processador de texto”
- Mais tarde foram introduzidos os primeiros programas em CP/M, do tipo WordSTar e SuperCalc
Em 1983 foi introduzida a primeira máquina CASIO FP1000, máquina imbatível em termos de qualidade. Com ecrans coloridos e monocromáticos, impressôras de vários tipos e com drives de disketes 5,25 e 8 polegadas, e um teclado super robusto, tinha uma qualidade que permite afirmar que, até hoje, não houve nenhuma máquina em Angola que tivesse uma performance tão boa, pois, a trabalhar dia e noite, com variações de energia, pó e elevada humidade relativa, NUNCA avariou uma só máquina.
Foi com esta máquina que foi feita a primeira comunicação entre dois PC em Angola com um programa feito pelo Eng. Henrique João, formado na Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Engenharia, que, especialista não aproveitado em processadores de oito bits (Zilog Z80 e os correspondentes da Intel...), escreveu em “código máquina” dois programas que permitiram a ligação entre dois PC com um cabo artesanal e através das portas RS232C dos PC´s... Um programa chamava-se “manda” e outro chamava-se “recebe”....(Na altura escrevia-se e compilava-se o código no CASIO, e depois formatava-se a disquete com CP/M da máquina escrava no NEW BRAIN....). Juntava-se o programa “recebe” na disquete formatada no New Brain e depois comunicava-se....
Este programa permitiu que muito software de gestão feito em COBOL dos CASIO fôsse passado para máquinas ROBOTRON que entretanto tinham sido compradas pelas FAPLA (Forças Armadas Angolanas na 1ª República....) mas sem qualquer software de apoio, sem sistema operativo, sem manuais e com um estranho forma de ecran de 16 linhas por 64 colunas.
Também foi passado muito software para duas máquinas SORD que entretanto tinham sido compradas pela ABAMAT em igualdade de circunstâncias.
Como um grande numero de máquinas daquele tempo, para além do basic em ROM, o CASIO FP1000 utilizava o Sistema operativo CP/M, o qual permitia que, no acto de “power on”, estando a diskete dentro da leitora, colocava a máquina em CP/M, o que, permitia depois “correr” qualquer programa ou linguagem; A CASIO lançou logo no início a sua máquina com todo o software de suporte...CP/M, processadores de texto, folha de cálculos e COMPILADORES de linguagens... Como Angola tinha muito programadores em COBOL, a Protécnica decidiu comprar o compilador de COBOL ( na altura este compilador custou quase tanto como o preço de três máquinas.....) ...O CASIO FP1000 foi o precursôr dos primeiros programas em CP/M feitos em COBOL para gestão empresarial...
Apareceram na altura os programas de Contabilidade, Salários, Gestão de Pessoal, Gestão de Stocks e Facturação em Cobol feitos pelo António Pamplona em regime de “carolice” sob encomenda da Protécnica. Na altura o grande impedimento era o facto do AP ser um técnico estrangeiro residente a trabalhar na Abamat e de acordo com as leis da altura não podia “mudar” de emprego, pois, se o fizesse ser-lhe-ia aplicada a lei “vinteequatrovinte” , isto é, vinte e quatro hora para sair de Angola com vinte quilos da bagagem.
Um dos directores da Protécnica trabalhava no código fonte com AP das 18 até madrugada e depois deixava-se o CASIO a compilar o programa durante o dia pois uma compilação demorava “horas”..... Às 18 do dia seguinte viam-se os “erros”, testava-se o software, corrigia-se etc e voltava-se a compilar.... (Horas de paciência.....). Cada “byte” era precioso e cada rotina era exaustivamente testada..... Estas experiências eram feitas com base em código fonte original da IBM dos Main Frames onde AP e RS faziam o “downsizing” do software tudo num sistema de “trial and error”
Muitas “coisas” nunca chegaram a ser aplicadas na prática porque as empresas e organismos não estavam preparados para “se informatizar” e o conceito era mesmo “estranho” para a maior parte das pessoas..... Por exemplo foi feito na altura um programa que “emitia o bilhete de identidade” e outro que “processava o Bilhete de Despacho da alfandega”… programas que nunca foram usados em lado nenhum.
Foi ainda feito um programa chamado PRBase ( despois virou Sisbase) que, com base em determinadas entradas se fazia uma base de dados para “documentos” que permitiam buscas automáticas com tempos de acesso de 1 segundo e com base em palavras chave que eram introduzidas no acto de inserção do documento.
Faziam-se as coisas só pelo prazer de fazer e ainda hoje existem aplicações feitas a correr em Cobol e em CP/M e MS-DOS que nunca conheceram realização prática como por exemplo a “Emissão e controlo do Bilhete de Identidade Nacional e Registo Criminal e o Bilhete de Despacho da Alfandega....)
Em inícios de 1984 apareceu a primeira máquina CASIO FP6000, que funcionava com sistema operativo MS-DOS ( não compatível com o PC-DOS da IBM...) e que tinha um processador Intel 8086 ( bem melhor que o processador 8088 do IBM...) e tinha tudo o que tinha o FP1000 tinha MAIS um disco duro de 20 MB podendo ser ligados vários discos.
Esta máquina permitiu que se passasse todo o know how existente em Cobol e Basic para os processadores de 16 bits e expandiu grandemente a forma de “pensar” porque a memória Ram era de 640Kb e acabavam-se os problemas de “armazenamento da informação” devido à existência do Disco Duro.
Em 1981 a IBM entrou no mercado mundial dos PC´s com o PC-DOS que tinha muitos defeitos, tinha uma resolução de ecran horrorosa e não controlava sequer discos duros. Apesar de horrível em muitas coisas, o IBM PC-XT impôs-se no mercado mundial… Estes PC´s só apareceram em Angola bem mais tarde com a introdução pela Protécnica dos CASIO FP4000 ( embora seja provável e lógico, que nesta altura outras entidades e pessoas já possuíssem PC´s em Angola de outras origens…. )
Tinha duas particularidades que o o mercado poderia ter utilizado....
- Tinha um “boot” em ROM, idêntico a tantas outras máquinas e que fazia com que a máquina entrasse em Basic ( o celebre BASICA da MSFT...) se não tivesse uma disquete com sistema operativo na leitora,
- Tinha possibilidades de utilizar qualquer dos Sistemas operativos da altura tais como o CP/M e o PC/DOS.
Se a politica de preços da IBM e a estratégia de marketing da Digital Research fôsse mais compreensiva a industria informática estaria provávelmente mais avançada uns 10 anos.
De notar que o CP/M era baseado no Unix que era (e é ...) o único sistema “de facto” multi-user e multi-tasking...”... Não fôra a MSFT ter aparecido, o Linux, a internet e tantas outras “coisas boas” da informática teriam estado disponíveis muito mais cedo....
No entanto foram os standards IBM e MSFT que se impuseram no mercado e com ele a CASIO teve que aparecer com os FP4000 ....
Esta máquina, igualmente única em termos de qualidade ( tinha uma fonte de alimentação impressionante...) mas muito mais lenta que o FP6000 transformou-se a partir de 1984 na base da informatização da Protécnica, do Ministério do Comércio Interno e todas as entidades que, sem objectivos comerciais imediatos, decidiram por sua conta e risco optar por uma solução não “main frame” com soluções de software interactivo e de alto rendimento prático.
Como curiosidade, Angola foi das primeiras entidades dos PALOP a utilizar software de gestão em COBOL e com tempos de acesso na faixa de um segundo em arquivos com 100.000 items de stock em cima de disketes de 8 polegadas e meio segundo em cima de discos duros.
Angola, e mais concretamente o Ministério do Comércio Interno, foi das primeiras entidades dos PALOP a utilizar os produtos integrados dos tipo Office da MSFT, neste caso o FRAMEWORK da defunta Ashton Tate que tantas saudades deixou.
Coisas que demoravam 6 meses a fazer passaram a ser recalculadas e impressas em horas.
Estatísticas, documentos bonitos, dados financeiros etc passaram a ser feitas em tempo útil e real. (....O problema eram os consumíveis, papel e fitas de impressôra que deram origem a mais uma carolice do Pamplona que foi o de montar uma “industria” de re-tintagem das fitas de impressôras com uma coisa que passou a chamar de “sopa do Pamplona” que era feita com uma mistura de tinta de caneta com óleo de carro....”
Em 1985 a CASIO deixou de fabricar PC´s e a Protécnica apresentou o primeiro computador Nacional, o modelo P3 (baseado no 8088-2).
Seguiram-se os mod. P4 (80286), o P4R(80286 com bios especial), P5(laptop 80286), P6(80386), P7(80386 com bios especial) e P8(note book). O modelo P4R era uma máquina super rápida e especial com um bios que eliminava a irritante limitação caracteristica ( e até hoje uma razão inexplicável das “razões” IBM...) de dividir a memória em 512Kb+512Kb que fazia com que aplicações corrêssem muitas vezes em PC-XT mas não corrêssem em PC-AT. Este bios “igualava” a forma de gestão de memória do P3 para 640Kb+384Kb e tinha o “impressionante clock” de 16Mhz....
......1989-1990, tempo da assinatura dos primeiros tratados de paz.
Até 1989 a Protécnica ainda passou pela experiência de tentar introduzir uma “marca conceituada” em regime de representação e para satisfazer o mercado das ONG´s e empresas estrangeiras, e introduziu a marca KAYPRO, empresa americana precurssôra das máquinas CP/M portáteis e muitos robustas (a título de curiosidade o Sr. Steve Case da AOL começou a sua vida informática num Kaypro destes...) mas que infelizmente teve problemas sérios em qualidade. As máquinas acabaram por ser todas “protécnizadas” com componentes da série P...
A título igualmente histórico, a Kaypro tinha um conceito muito interessante onde os vários modelos de máquina tinham um “bus board”, discos, interfaces de ecran e impressôras comum a todos os modelos e os processadores e memória estavam todos numa placa que se substituia ao gosto do cliente. Se este tipo de máquina tivesse sobrevivido, seria possível comprar máquinas via maritima e tê-las em stock e apenas mandar vir os boards do processador e memória via aérea. Infelizmente o fornecedor dos boards não conseguiu em tempo útil resolver os problemas técnicos de qualidade e isso provocou a falência da Kaypro.
Em 1991, divergências sobre os métodos de gestão a adoptar na Protécnica num ambiente de economia aberta, fizeram com que a empresa se dividisse em três partes, tendo a parte informática e equipamento de escritório ficado com a empresa que se passou a designar de Sistec, SA.
Os concursos públicos internacionais fizeram com que a SISTEC, deixasse de fabricar PC próprios e começasse a vender PC´s de renome internacional pois os organismos internacionais básicamente só compram “marcas de marca” ..... Assim, passou a representar a marca GATEWAY2000, quarta maior fabricante dos EUA.
Tornou-se igualmente IBM business partner, e hoje, 2011, existem alguns indicadores que, num mercado pequeno como o angolano servem de referência.
- Um parque de mais de 100.000 máquinas instaladas no terreno
- 11 Computadores de médio/alto porte da série iSeries da IBM
- Um parque de mais de 150.000 UPS instalados no terreno
- Um parque de mais de 100.000 impressôras
- Cerca de 35.000 alunos formados nos nossos centros de formação
- 50 clientes a utilizar o ERP/CRM desenvolvido pela Sistec que entretanto migrou para Windows, SQL e modernas técnicas de programação.
A Protécnica/Sistec foi ainda pioneira em algumas coisas, umas com sucesso e outras como simples curiosidade científica.
Por exemplo… Em 1988 instalou uma coisa que se pode chamar de “o sistema precussôr da Internet em Angola, chamado de FIDONet BBS” e que na altura não se viu nenhuma vantagem nisso. Para além disso como as ligações eram feitas com o exterior através do célebre 109, quando se tentava transmitir dados emitia-se um sinal agudo “brriiiiii…” que a(o) operador(a) da Angola Telecom não entendia e, pensando tratar-se de um erro desligava a ligação, isto apesar das explicações prévias que se tentavam dar.
Na altura o mercado não estava simplesmente virado para este tipo de inovações… Mas fica o registo e a curiosidade.
A Sistec instalou também, já nos anos 90 duas coisas interessantes… Para um cliente, uma rede de Walkie talkies que funcionava com 168 repetidores espalhados pelo País, com chamada selectiva e que “tocava como um telefone” apenas quando se chamava o walkie talkie…
Desenvolveu um produto que na altura se chamou de “Balcão simulador” e que foi a base catalisadora para um produto que foi utilizado até à bem pouco tempo como “software bancário” no BNA, BPC e CAP; Dessa base nasceram também uma série de programadores e analistas que hoje ainda dão contributos significativos no sector embora alguns já estejam reformados.
Desenvolveu um sistema onde, se conseguia visualizar imagens a partir da insersão de um programa que na altura era usado no WordStar ( Inset… ) e que, a através de uma chamada a esse programa se conseguia fazer alguma manipulação de imagens dentro de programas em Cobol e Dbase/Clipper… Este programa foi testado no chamado “Cartão de Abastecimento complementar” e num “bilhete de Identidade”… Chegou a ser feito um teste para funcionar com os registos criminais.
Desenvolveu e instalou também um sistema semelhante chamado de Sisdata2009 que funcionava ( e ainda hoje funciona ) como um sistema de correio electrónico simples a partir de computador do utilizador e que transmite a mensagem independentemente do “caminho” … Funciona até com rádios de HF que como se sabe tem uma largura de banda de apenas 2,5khz.
Hoje em dia os computadores, a internet e sistemas celulares são coisas banais entre todos nós.
Quando vamos a um supermercado vemos a rapidez com que as contas são feitas a partir de simples passagem dos produtos por um “scanner” que lê um código de barras e processa uma série de informação instantaneamente.
Não podemos no entanto esquecer que o que hoje acontece é fruto de um processo de “partir pedra”, de busca, de muitas horas de experimentação.
Hoje existe um “mito” onde se “aceita tudo que tudo o que é investigação” é feito “lá fora” … Este registo que faço hoje é apenas para dar a conhecer a quem não sabe que “em Angola também se fez ( e FAZ ) pesquisa… Também existem pessoas a pensar e a fazer coisas… Infelizmente Angola não tem economia de escala para pensar “grande” e colocar produtos no Exterior… Não tem tão pouco vocação para exportar determinadas coisas… Podemos mesmo dizer que existe uma “grande propensão” para apenas valorizar o que é de fora e estrangeiro.
Estou convicto que em Angola existem muitos cérebros que, na sua insignificância também fazem Pesquisa, também Desenvolvem… Espero que este artigo possa atrair duas coisas:
- O registo histórico para o que a Protécnica/Sistec fizerem, tem feito e estão a fazer.
- Que outros pessoas e empresas se manifestem e apresentem os seus produtos, não desistindo.
Finalmente para quem quiser “navegar” pode visitar alguns links:
NEw Brain, https://www.old-computers.com/museum/computer.asp?c=176&st=1; FX900P, http://www.old-computers.com/museum/computer.asp?c=760&st=1
Casio FP1000, http://www.old-computers.com/museum/doc.asp?c=101
Casio FP6000, http://www.old-computers.com/museum/doc.asp?c=820
Robotron, http://www.old-computers.com/museum/doc.asp?c=864
Sord, http://www.old-computers.com/museum/doc.asp?c=218